Autor: Sérgio Magalhães, Editora RioBooks, 2021
Uma visão urbanística da cidade contemporânea na perspectiva de sua adequação às exigências do século XXI. Tem o Rio de Janeiro como núcleo da reflexão.
O livro se compõe de um capítulo inicial, três partes dedicadas aos temas interação, equidade e planeta, e um capítulo final à guisa de conclusão. Como anexo, o documento final do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO, intitulado “Carta do Rio de Janeiro”.
Sinopse
As cidades têm milhares de anos e, ao longo do tempo, passaram por muitas fases em que eram objeto de desejo e de rejeição, de bem-estar e de violência, de cuidados e de descaminhos. Muitas importantes cidades foram vencidas. Muitas outras, porém, são vitoriosas.
A cidade, como o maior artefato da cultura, é diversa, seguindo a sociedade que enquanto a conforma dela recebe influência. Muda com o tempo, com a política, a economia, os costumes, o clima – ainda que possa parecer a mesma.
A cidade não segue um modelo único. Mas, mesmo para as sociedades mais fechadas, é o lugar da liberdade. O ar da cidade liberta, diz o ditado medieval alemão. É o lugar da interação social, do encontro. Contudo, nela avultam modelos de segregação espacial: os ricos, por opção; os pobres, por exclusão.
A maioria de nossas cidades apresenta importante déficit socioambiental e tem desigualdades intraurbanas que comprometem seu desempenho como lugar de liberdade e bem-estar. A universalização dos serviços públicos e a reconstitucionalização dos territórios dominados por bandidos e milícias são determinantes para a equidade.
Sendo a população mundial majoritariamente urbana, e a brasileira em sua quase totalidade o é, as condições de agressão ao clima e à natureza têm na cidade importante contributo. A expansão predatória em baixa densidade tem responsabilidade quanto ao consumo energético exagerado. A atenção ao planeta precisa ter foco nas possibilidades urbanísticas.
O Rio de Janeiro tem papel fundamental para o país, por sua história, seu patrimônio, por sua economia, por sua população, sua imagem mundial de cidade da bem-aventurança e por sua cultura. O Rio tem na fruição do espaço público uma de suas mais importantes características. A simbiose entre arquiteturas/montanhas/águas, em escala de metrópole, fazem da cidade um lugar ímpar no mundo, desfrutado livremente em ruas, praias e florestas.
A Baía de Guanabara é origem da cidade e articuladora de sua região metropolitana. A recuperação ambiental da Guanabara semeará desenvolvimento metropolitano e ressinalizará o Rio como lugar da bem-aventurança.
O Rio tem uma ampla rede ferroviária com baixo nível de aproveitamento e situação deprimente quanto ao conforto e à segurança dos usuários. Ela, porém, alcança a maior parte da metrópole. A transformação dos trens em metrô de superfície representará a requalificação da Zona Norte suburbana e oferecerá transporte de alta eficiência para a Zona Oeste e a Baixada Fluminense.
O Centro do Rio de Janeiro é o lugar histórico mais importante do país, detém o mais rico patrimônio arquitetônico de cinco séculos. Núcleo fundamental da cidade, é também o lugar que melhor articula a cidade metropolitana. Nas últimas décadas ele foi esvaziado pela perda da capital federal e, em especial, pelos privilégios de investimentos públicos direcionados para a Barra da Tijuca. O fortalecimento do Centro passa por uma revisão na legislação, com estímulo para novos agenciamentos e aproveitamento das áreas abandonadas ou ociosas. Também pelo investimento em modernização das infraestruturas, em especial a de mobilidade, que tenha o Centro como foco. Sobretudo pela valorização de seu excepcional conjunto de equipamentos culturais, com a promoção de agendas coordenadas de interesse para todas as idades e estratos de renda. A recuperação do Centro fortalece a identidade coletiva bem como a imagem que o Brasil e o mundo fazem da cidade.
A situação da cidade atinge todos, não apenas aos cariocas, mas também o país, tendo em vista o grau de representatividade nacional que a cidade detém. O Rio de Janeiro precisa de um estatuto institucional próprio que lhe dê condições de responder aos desafios que se acumulam desde os anos 1960.
É o tempo de voltar o olhar para o nosso ambiente de vida. É o momento de apostar nas possibilidades de mudança para tornar o mundo melhor, como nos sugere o filósofo francês Edgar Morin, do alto de seus cem anos, em entrevista para o jornal Le Monde (19/04/2020).
Mas, podemos falar em reinventar a cidade? A expressão é claramente forte, pode ser até exagerada. No entanto, dado o grau de dificuldades em que se encontra o sistema de cidades, poderá ser apropriada como sinal mobilizador para a indispensável mudança.
Afinal, trata-se de admitir a hipótese de que o mundo pode ser melhor e que a nossa tarefa é seguir o caminho da esperança.