Eduardo Cotrim
A motivação dos Arquitetos com os assuntos da Cidade, aparentemente tem se demonstrado bem maior que aquela provocada pelos velhos temas específicos da categoria. Retiro agora o aparentemente porque, de fato, essa motivação da classe pelos desafios do Rio tem reconhecimentos que extrapolam os do nosso círculo profissional.
Os Arquitetos estão na imprensa, planejadores do mundo têm vindo conversar conosco, instituições pedem concursos, o Governador do Estado surge no IAB para a comemoração dos seus 90 (e respectivamente 48) anos, o Prefeito veio à casa quase no dia seguinte para orientar e diplomar as equipes vencedoras do Morar Carioca – no meu ponto de vista, também um claro sinal de que há muito deixaram de ser partidos para serem Governador e Prefeito. Falta ainda nossa Presidenta ou uma(m) Ministra(o) sua(eu) no IAB, mas isso, quem sabe, pode ser só uma questão de tempo delas.
Enfim, os ventos são favoráveis. Há claramente uma sinergia e chegaremos lá, mas por outro lado, as responsabilidades crescem, e aí o bicho pega ou pode querer pegar. Sabe-se que há sempre um à espreita que se nutre das boas iniciativas e dos bons momentos. Para o bicho, não importa a que vieram as iniciativas e quais são os bons momentos. Ele quer pegar e pronto. A coisa está andando? O negócio está indo? O bicho está lá.
Mas onde o bicho pega? Em geral, nas coisas nada significativas e naquelas fundamentais, tanto faz para ele. No nosso caso, entre as coisas insignificantes, ele pode pegar nos desenhos, quando forem mais assim ou mais assado, o que se sabe bem rebater. Entre as fundamentais, provavelmente nos conceitos dos projetos. Mas pelo que demonstram os últimos concursos, foi principalmente esse item que amadureceu.
Admite-se que os primeiros projetos do Rio-Cidade, do Favela-Bairro, sobretudo nesses programas, vimos uma espécie de jato de vapor de uma panela de pressão sob intenso calor. Isso se explica, porque não havia até aí inclusão dos arquitetos e urbanistas da Praça do Rio, nos planos municipais. Talvez desde Pereira Passos. O momento parecia ser o de revelar, mesmo que involuntariamente, os Arquitetos das Arquiteturas, os Bairros dos Urbanistas, enfim, a panela estava quente há muito tempo…
Até então, por outro lado, os governantes não enxergavam que a cidade também era um aparato que entrelaçava espaços, identidades de espaços e carências de bons espaços. O desenho não existia para além das normas de zoneamento e tabelas de usos e atividades. As favelas tampouco.
O Rio de Janeiro, que de fato expõe como unitária as diferentes culturas do país, para nós e para o mundo, tem sido, apesar de tudo, uma espécie de referência de exemplos urbanísticos e onde surgem e ressurgem Arquitetos.
Concluindo. Se a compreensão do lugar estiver acima da sua invenção e se o desenho for além da obra pronta, o bicho pode querer… mas não pega.