*Mensagem eletrônica de 30/11/2010 transcrita especialmente para o CI
Mauro Osório*
Hoje saiu um caderno especial no jornal O Globo com o seguinte título: “Rio virtuoso. Um cenário de encher os olhos. Após anos de estagnação, Rio recupera o alto astral com avanços na infraestrutura, na economia e na segurança.
De fato, o Rio vive uma perspectiva de reversão da trajetória de perda de participação relativa e desestruturação do setor público vivida nas últimas décadas. Entre 2000 e 2009 a indústria de transformação no Brasil, São Paulo e Minas Gerais cresceram, respectivamente, 17,7%; 23,6%; e 13,8%, no ERJ ocorreu uma queda de 1,9% de acordo com dados do IBGE. Já nos últimos 12 meses, vê-se o ERJ encostar na trajetória nacional. Entre novembro de 2009 e outubro de 2010, a produção física da indústria de transformação cresceu no Brasil, São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, 11,7%; 11,3%; e 14,5%, enquanto no Rio o crescimento foi de 11,4%.
Na mesma direção, os dados de segurança pública, em período recente, são ótimos. Hoje o jornal O Globo divulgou estatísticas que mostram uma queda entre os dias 1° e 21 de dezembro de 30,8% nos roubos de veículos e de 14,1% nos homicídios.
Um outro aspecto positivo é a melhoria do ponto de vista das perspectivas e da auto estima do morador em nossa região. No entanto, ainda temos diversos desafios colocados. Também no jornal O Globo de hoje, uma matéria com dados do Rio Como Vamos tem o seguinte título: “Estudo mostra um Rio de águas poluídas. Levantamento revela que quase metade do esgoto produzido na Cidade não é coletado e vai parar no meio ambiente”. Caso sejam agregados a esses dados informações sobre a periferia da RMRJ, que é mais precária do que as periferias das RMSP e RMBH, esses números com certeza piorarão. Por esse motivo, acredito ser fundamental buscarmos construir uma governança para a Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.
A matéria do caderno especial traz, ainda, o seguinte trecho: “em 2009, o PIB do Estado chegou a R$ 343,2 Bilhões, equivalente a 11,3% do PIB nacional, ficando atrás, apenas, de São Paulo”. Gostaria de lembrar que, em 1995, a participação do ERJ no PIB nacional já era de 11,2%. Como no correr desse período a extração de petróleo, concentrada fortemente no ERJ, cresceu de forma acelerada, o Rio perdeu participação no país nas demais atividades econômicas.
Ainda no caderno especial existe a seguinte matéria: “um destino cada vez mais procurado. Com exposição da Cidade na mídia, mais turistas viajam para o Rio e rede hoteleira tem registrado recordes”. De fato, a marca Rio é fortíssima e as perspectivas são positivas. No entanto, os desafios para uma reversão definitiva, certamente ainda exigirão esforços, como investimentos em infraestrutura, o aprimoramento de estratégias e geração de produtos, no que diz respeito especificamente à área turística. Entre 2006 e 2009, a cidade do Rio de Janeiro apresentou queda do número de empregos em hotéis de 1,72%, contra um crescimento do emprego nas demais capitais do Sudeste, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória de, respectivamente, 2,87%; 10,19%; e 7,15%.
A matéria do caderno especial aponta, ainda, os investimentos na Zona Portuária da Prefeitura, que entendemos como de fundamental importância. É uma pena que a vila olímpica tenha ficado no Recreio e não nessa região. É importante buscar ampliar no limite o peso da Zona Portuária e Central na realização das olimpíadas de 2016.
Em outra parte do caderno, aponta-se as obras e políticas na área de transporte. Nesse aspecto, acredito que deveríamos procurar seguir o exemplo de Londres, que prioriza transportes sobre trilhos. Entendemos que a prioridade deveria ser a transformação do trem suburbano em metrô de superfície, onde moram e/ou trabalham 70% dos cariocas. Seria importante, também, buscar articular a existência de metrô chegando ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro.
Na perspectiva de que haja continuidade da reestruturação do setor público, do aprimoramento das estratégias no âmbito do Estado do Rio de Janeiro e da consolidação da reversão da trajetória do ERJ e da metrópole do Rio, desejo um ótimo ano novo a todos.
*Economista, professor da UFRJ e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ.