Eduardo Cotrim
A natureza feminina das cidades emerge, elas se tornam mais completas, quando distinguem, nitidamente, os lugares coletivos oníricos, dos pragmáticos da funcionalidade urbana.
Diferente dos lugares de uso, como os corredores de tráfego, não há modelos para os lugares que privilegiam o usufruto, ainda que no reino das superfícies públicas, os espaços urbanizados do usufruto sejam historicamente vazios.
Os vazios suportam interações conscientes e não conscientes, já que acolhem e promovem os usufrutos estéticos, ambientais, funcionais e os dos seus significados.
Entre os personagens dos vazios urbanos, as praças já seriam suficientes para merecer uma classificação com nomes diferenciados, pela variedade de suas expressões, personalidades e modos como são apropriadas.
Entre os personagens dos vazios urbanos, as praças já seriam suficientes para merecer uma classificação com nomes diferenciados, pela variedade de suas expressões, personalidades e modos como são apropriadas.
O Centro do Rio, como o de tantas outras cidades, é pontilhado por praças e por inúmeros vazios – parques, pequenos largos, becos, revelados pelos volumes construídos. Os vazios frequentemente não predominam em superfície e se comportam como elementos promovidos pelo todo ao redor.
Em algumas outras culturas ocorre o vazio predominante, como nas cidades dos Waimiri Atroari e dos Yanomamis, embora estes distribuam o cheio de forma antagônica. Entre novaiorquinos e cariocas, o antagonismo se dá na distribuição do vazio.
As cidades que têm o não-cheio distribuído em praças, em largos, em becos de expressões variadas, que, portanto, agregam maior riqueza morfológica ou têm mais chance de agregá-la, têm também a vantagem de possuir os vazios como elementos extras de identidade do espaço urbano.
O Centro do Rio é assim, mas ainda há algo a ser feito – pelos urbanistas, arquitetos e ambientalistas, principalmente, para que se restabeleça, de forma plena, a identidade de gênero da Cidade – o nosso centro – para o resgate das potencialidades de usufruto, consciente ou involuntário, dos vazios, pelos cidadãos: entender e tratar nossas praças, largos e becos, observá-los, pesquisá-los, iluminá-los, interferir em seus interiores e entornos contíguos, os físicos e os de posturas, enfim, o que os bons projetos costumam fazer.
Imagens na ordem da apresentação:
Largo de São Francisco de Paula, Rio de Janeiro
Praça do Vaticano
Praça Imam, Esfahan
Rua de Havana
Escadaria Selarón, Rio de Janeiro
Aldeia Waimiri Atroari, Amazonas
Aldeia Yanomami, Amazonas
Nova York
Rio de Janeiro
Largo de São Francisco de Paula, Rio de Janeiro
Praça do Vaticano
Praça Imam, Esfahan
Rua de Havana
Escadaria Selarón, Rio de Janeiro
Aldeia Waimiri Atroari, Amazonas
Aldeia Yanomami, Amazonas
Nova York
Rio de Janeiro