O crescimento das cidades, particularmente, os números recentes que apontam para a superioridade da população urbana sobre a rural, nos fazem refletir cada vez mais sobre os modelos de urbanização e as suas consequências sobre o desenvolvimento social.
Em um artigo publicado no jornal O Globo do último sábado, o arquiteto Sérgio Magalhães fez uma alerta, discorreu sobre alguns desses modelos e pleiteou um padrão mais consciente e igualitário:
“O desenvolvimento nacional é urbano, mas assimétrico. A cidade, que incluiu, também apresenta índices inaceitáveis de desigualdade social.
Recente estudo realizado entre 63 países em desenvolvimento, divulgado pela ONU/Habitat, situa cinco cidades brasileiras entre as vinte socialmente mais desiguais do mundo. Goiânia, no rico Centro-Oeste, é a mais desigual entre as brasileiras, seguida de Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba.
Ironicamente, três delas são novas capitais planejadas.
A que atribuir essa marca?
A desigualdade social intraurbana, é claro, é fundada na estrutura econômica e política da sociedade.
Mas também razões urbanísticas respondem pela desigualdade. Entre estas, devemos considerar a expansão da cidade em baixa densidade populacional, carente de infraestrutura e serviços.
(…)
Todos sabemos que a carência de infraestrutura, de transporte adequado e de serviços públicos dificulta aos pobres a inserção na educação, no trabalho e no desenvolvimento.
Expandir a cidade, assim, será um reforço à desigualdade e pereniza a injustiça.
O Rio pode dispensar a expansão em novos parcelamentos, mesmo ricos.
Estes também aumentam os custos urbanos. A cidade tem suficientes territórios intraurbanos a ocupar, inclusive vazios centrais.
Lugares a serem recuperados, retirados da anomia, bairros deprimidos que, no entanto, por sua localização, história e cultura podem perfeitamente voltar a ter vitalidade. Inúmeros bairros privilegiados têm ampla condição de abrigar a emergente classe média. Nesse sentido, a região das Vargens Grande e Pequena, na Barra, deveria permanecer tal como definida no Plano Lúcio Costa, destinada a sítios e chácaras. Lembremos que sua área equivale a 25 vezes os bairros de Copacabana e Leme somados. Como pode interessar à cidade tal expansão? O futuro da cidade passa pela qualificação continuada, estratégica, de seu espaço urbano-metropolitano.
É um desdobramento impositivo à capacidade demonstrada pelo sistema urbano brasileiro de incluir milhões de cidadãos. Faz parte de seu desafio, agora, combater a desigualdade.”
Leia aqui o artigo de SM: Desigualdade induzida.