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O Globo

A chance do Rio

By 26/03/2010setembro 23rd, 2021One Comment

 Editorial do jornal O GLOBO de sexta-feira, 26/03/2010.

Defensores da preservação integral da proposta avalizada pelo Comitê Olímpico Internacional para a realização das Olimpíadas no Rio batem na tecla de que o órgão não aprovaria alterações substanciais no projeto para os Jogos de 2016. O mantra é um código com objetivo certo: manter apenas na Barra da Tijuca os investimentos urbanos prioritários prometidos pela cidade para viabilizar a competição.
Não se discute que, no geral, a Barra oferece ótimas condições para abrigar o mobiliário a ser montado no Rio e, prioritariamente, sediar a maior parte das competições. Mas pelo menos uma experiência anterior, a de Barcelona, muito bem-sucedida por sinal, mostra não só que é possível, mas também recomendável estender os investimentos a outra área da cidade – no caso, a Zona Portuária.
Região com enorme potencial de desenvolvimento urbano, habitacional e de negócios, o Cais do Porto será palco nos próximos anos de profundas, modernizantes e necessárias intervenções. Trata-se de um movimento natural de recuperação de uma cidade que, ao mesmo tempo em que cresce para além dos limites das tradicionais zonas Sul e Norte, por décadas manteve ao abandono uma área estrategicamente importante e economicamente rentável, e com infraestrutura ociosa.
Por que não aproveitar, então, a oportunidade criada com o previsto mutirão de transformações da região e, sem prejuízo para o papel reservado à Barra nas Olimpíadas, redirecionar eventos – como competições indoor nos grandes armazéns do cais – que ajudem a consolidar o movimento de reentronização da Zona Portuária na geografia da cidade? Alterar o projeto original pode ser difícil, mas não impossível.
Em recente seminário promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (cujo presidente, Sérgio Magalhães, defende entusiasticamente a ideia de redirecionar a instalação de equipamentos, da Barra para a Zona Portuária), o arquiteto catalão Jordí Borges lembrou que o projeto original de Barcelona para os Jogos de 1982 sofreu 16 alterações.
É verdade que as mudanças devem ser embasadas em estudos aprofundados, mas vale o esforço. Como observou Borges, “os Jogos trazem uma oportunidade única para o Rio: a de trazer parte das instalações olímpicas para o Centro e melhorar áreas carentes da cidade”. O debate não está fechado, e deve ser travado com a mentalidade de quem busca o melhor para o Rio, e não apenas para uma parte do município. Por que não aproveitar a chance?

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