A cidade de Porto Príncipe deve estar destruída. Os principais edifícios estão no chão. E são eles que aparecem nas imagens da TV. Mas eles também, em geral, estão localizados nas áreas planas da cidade e são mais bem construídos. Imaginem o que terá acontecido com as áreas residenciais pobres, que são construídas nas encostas, tal como nossas favelas.
Porto Príncipe tem mais de 2,5 milhões de habitantes. A imensa maioria não dispõe de água encanada. O abastecimento é por galões comprados em “quiosques”. A disponibilidade é de menos de 10 litros/dia por pessoa (entre nós, calcula-se que a média de consumo seja 200 litros/dia). O lixo é recolhido muito precariamente. A energia elétrica é distribuida 1 ou 2 horas por dia. A ruas, em geral, não tem iluminação pública.
Isto tudo antes do terremoto.
O país está devastado. Sobrevoando, vê-se que o interior não tem cobertura vegetal, salvo pasto. Os córrregos/rios existem com chuva; sem chuva, ficam secos. Águas subterraneas tendem a ser salobra.
Uma reconstrução de Porto Príncipe precisaria contar com uma monumental ajuda internacional, bilhões de dólares, por muitos anos. E não vejo chance de ser bem sucedida se considerar a reconstrução do que foi destruído pelo terremoto: será necessário dar condições do país vir a se sustentar.
Como? São quase 10 milhões de hatianos!
Antes do terremoto, as instituições políticas eram frágeis. Todo o esforço da ONU era no sentido de dar consistência institucional para o país. Os símbolos institucionais eram sólidos: o Palácio Nacional, a Catedral, o Liceu Pétion, o Hotel Montana (sede da ONU). Agora, também estes símbolos estão no chão.
E eu que via as fotos que fiz em cada viagem como medida do avanço alcançado com o programa de recuperação do país! Percebia o avanço e ficava contente; mas via o lento avanço e sobrevinha a dúvida sobre a possibilidade de melhora efetiva. Jamais poderia supor que essas fotos, tão pungentes, reportando tanta pobreza e dificuldade, poderiam vir a ser documentos de um tempo superior!
O que poderemos fazer para nos solidarizarmos com o povo do Haiti? Como ajuda-lo? Há o agora e haverá o logo a seguir.Eu não tenho respostas.
Apenas, uma grande tristeza e o desejo de que possamos elaborar algo que possa ser útil.
Veja as três notas anteriores sobre o Haiti, publicadas em setembro de 2009:
Modernidades, Parece Pequena e Paisagem Bonita