Por sua sugestão, como acréscimo de argumentos à idéia do Parque Olímpico na região portuária, mas não como contribuição ao debate técnico do tema segurança, entendo que as considerações de Cesar Maia devam ser friamente observadas, sem interferência de ruídos de quaisquer naturezas: o tema segurança, sobretudo para a sociedade carioca, é uma espécie de ferida e tem essa conotação. A argumentação do ex-prefeito, a favor da Barra, é técnica, calcada em suas experiências como Prefeito, que não foram quaisquer.
É certo que urbanistas e arquitetos pouco podem dizer sobre a melhor proposta para 2016, do ponto de vista da estratégia de segurança. Talvez praticamente nada, a não ser que sejam também especialistas no tema. No entanto, é razoável entender, estou de pleno acordo contigo, que a sociedade, nesse momento, possa debater e mais ainda, apresentar contribuições que não puderam ser analisadas no período de elaboração da proposta ao COI , já que nos defrontamos com uma oportunidade impar de restabelecer o Rio até onde os esforços puderem chegar. Sobretudo o Rio que o mundo todo conhece.
Por outro lado, não percebi nas argumentações do ex-prefeito qualquer palavra que transmitisse intenção de refutar ou minimizar o significado da revitalização da área portuária e Centro, a partir da realização dos Jogos. Cesar Maia é a favor da Barra por uma questão de segurança, e se sou bom entendedor, arrisco concluir de seus argumentos que é melhor perdermos um dedo (o Centro ou uma Olimpíada insegura) a um braço (o sucesso dos Jogos). No entanto, creio que só se esgotaria uma alternativa, se fosse esgotada definitivamente a outra, motivo pelo qual as discutimos agora.
A necessidade de se garantir a segurança nos Jogos é inquestionável, mas não se elaboraram ainda estudos maiores de um Parque Olímpico para a área do Porto. Que a zona portuária pode abrigar uma Vila Olímpica, sabemos que sim. Que muitos urbanistas e moradores da cidade entendem ser essa a melhor opção para a cidade, também. Mas os estudos não comportariam argumentos apoiados em fatos, como “assaltos na Francisco Bicalho por bandidos do morro da Providência” ou o “fechamento do túnel de acesso a São Conrado por traficantes da Rocinha”. Já ouvi bobagens como essas. Cabe aos urbanistas proporem projetos consistentes o mais breve, apresentá-los aos especialistas em segurança, entenderem suas recomendações e integrá-las ao plano, de modo sério e sem pré-disposições. O melhor legado dos jogos interessa à cidade, aos visitantes e certamente ao Comitê Olímpico Internacional.
Ainda que a implantação de um Parque Olímpico na zona portuária, para o sucesso dos Jogos e da Cidade, signifique um investimento maior em soluções de segurança urbana, em relação ao que se praticaria na Barra, valeria o preço.
Leia outra nota de Eduardo Cotrim, publicada nas Cartas dos Leitores do OGLOBO.