O Globo, Coluna do Ancelmo Gois, 11/2/2022
“O ar da cidade liberta”, diz velho ditado alemão. Nela, o espaço público é o lugar da liberdade e da interação social. A praça exerceu esse papel ao longo da história.
No século XIX, na reforma de Paris, as ruas foram redesenhadas e fez-se a separação entre veículos e pessoas. As calçadas, largas, se incorporaram à cidade em um espaço público de fruição da vida urbana, como cantou o poeta francês Charles Baudelaire.
Quando o mar deixou de ser lugar perigoso, a praia adquiriu status de lugar de prazer, ainda que restrito, nos resorts europeus. Mas, o Rio de Janeiro fez diferente: com Pereira Passos as novas avenidas à beira-mar deixaram de um lado as propriedades privadas e de outro a praia.
O Rio promove uma revolução em grande cidade: a incorporação da praia à vida urbana, praia de livre acesso e uso público – uma conquista civilizatória.
O conjunto praça, calçada e praia assumiu-se como característica mágica da interação social que compõe a Cidade Maravilhosa.
Quando se vê a praça privatizada, e por tristes construções, como no Largo do Machado, que outrora teve paisagismo de Burle Marx; quando os quiosques da orla passam a ter dimensões descabidas e vendem até sandálias; quando se vê calçadas esburacadas, perigosas, devemos constatar: é hora de um pacto entre sociedade e governo para a recuperação do espaço público.
Um esforço compartilhado de recuperação das áreas públicas do Rio de Janeiro fará bem a todos, dará vida nova à cidade, além de muitos empregos distribuídos pelos bairros, a custo também distribuído. É tempo de juntar esforços e olhar em frente.