Skip to main content
O Globo

Arquitetura

By 19/01/2019setembro 22nd, 2021No Comments

O Globo 19 jan 19

Os espaços construídos influenciam a vida social ou são irrelevantes? A noção de Cidade Maravilhosa tem relação com as obras de Pereira Passos? Terá o ambiente de Copacabana algo a ver com a bossa nova?

As civilizações tem seus marcos intangíveis, como os acordos sociais, que as qualificam, e suas expressões materiais, como a arquitetura, que conformam a identidade coletiva. Assim a França, por exemplo, por valorar o papel da arquitetura na construção de sua identidade cultural, rejeitou o regime comum de obras públicas proposto pela União Européia.

A arquitetura é o abrigo e o espaço coletivo, a casa e a cidade, a produção autoral e a anônima, a complexa obra de arte e a simples construção. É expressão da cultura e agente em seu processo evolutivo.

Nessa compreensão, pelo rico patrimônio produzido em séculos bem como pelos enormes desafios da cidade contemporânea, é que o Rio será sede do 27º Congresso Mundial de Arquitetos, em 2020. E “Capital Mundial da Arquitetura”, designada pela Unesco. A primeira cidade no mundo a receber este título.
Congresso Mundial e Capital Mundial são eventos entrelaçados com potência para valorizar, ainda mais, nosso patrimônio arquitetônico, urbano e paisagístico. Em especial, para promover uma reflexão ampla sobre o espaço que temos e como desejamos acolher a vida social em nosso futuro.

O Congresso Mundial é promovido sob chancela da União Internacional de Arquitetos, UIA, e organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em sintonia com todas as instituições nacionais da arquitetura, do urbanismo e da pesquisa nesse campo. A programação da Capital Mundial, sob chancela da Unesco e da UIA, cabe à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro em co-gestão com o IAB.

Sendo eventos mundiais, seu horizonte ultrapassa o país. Serão lugares de interesse para os muitos milhares de arquitetos e urbanistas, acadêmicos, estudiosos, produtores de cultura que virão ao Brasil em 2020. Serão também importantes para colocarem as questões urbanas com visibilidade para a sociedade e os governos, e, igualmente, para ajudarem a produzir uma agenda positiva para as nossas cidades.

Quais as boas experiências mundiais quanto à construção, à mobilidade, à tecnologia, ao planejamento e à gestão de cidades e metrópoles? Como urbanizar e integrar as áreas populares? Como reduzir a desigualdade intra-urbana? Como superar a segregação urbana? Quais os compromissos da cidade com o ambiente e o clima? Como as diversas expressões da cultura constroem o espaço social?

A arquitetura e a boa cidade são essenciais para o bem estar e para o desenvolvimento nacional; não são só decorrentes, são também produtoras de progresso. A economia nacional se desenvolve não apenas com grandes negócios, mas também com micro e médios empreendimentos que prosperam quando as condições urbanas são favoráveis, e minguam quando são degradadas.

(Vale recordar. As obras do Rio, ao tempo de Pereira Passos, reformaram o Centro e fizeram a praia acessível e pública; é quando se cunha a expressão Cidade Maravilhosa. Décadas depois, Copacabana emerge cosmopolita, à beira-mar, densa; são os Anos Dourados da bossa nova.)

Que o Rio possa compartilhar sua rica experiência com todos brasileiros e estrangeiros que aqui vierem para celebrar a vida, expressa na arte de construir. Que o Brasil saiba corresponder à confiança que as instituições internacionais da cultura lhe conferem e possa realizar o mais participativo Congresso Mundial; que tenha o ano de 2020 como a Capital Mundial que sabe reconhecer suas vitórias, seus desafios e consiga propor horizontes mais belos, mais iluminados, mais inclusivos, mais solidários para as cidades.

Justamente por seu caráter eminentemente social, a arquitetura não é afeta somente aos arquitetos. Arte e técnica, é necessariamente de todos. Arquitetura é pedra sobre pedra, mas sobretudo alma, amor, aconchego, memória e esperança.