Volta o tema de pintar as casas de favelas. Estimuladas pelo governo, empresas patrocinarão as tintas.
Há precedentes, como o projeto ‘aquarela’, que pintou as casas de favela no morro Dois Irmãos, Leblon. Também as casas do morro da Coroa, no Catumbi, foram pintadas, no caso, de branco. Na Santa Marta, a urbanização da favela incluiu o serviço de “melhorias habitacionais”, que emboçou e pintou parte das moradias.
O arquiteto Eduardo Cotrim, há alguns anos, refletiu sobre o motivo pelo qual as famílias não emboçavam suas casas e formulou, como hipótese, uma certa estética-ética de valorização do inacabado. Hoje, O Globo publica interessante artigo assinado pelo sociólogo Paulo Magalhães, que ajuda a entender a complexidade da questão.
Vale lembrar um dos pilares da arquitetura do movimento moderno: a “verdade dos materiais”. Concreto aparente, tijolo à vista, entre outros, constituíram-se em marcas de determinadas correntes modernistas. A rejeição ao adorno, componente fundamental na constituição dessa estética, deitou raízes profundas. Se ela não explica o não revestimento das casas de favela, poderá ajudar a compreender um certo olhar de simpatia, desde a classe média arquitetônica, ao aspecto inacabado em foco.
Se se perguntar ao morador, ouviremos, seguramente, a resposta da falta de dinheiro para emboçar e pintar o exterior da casa. O interior está prontinho, os equipamentos domésticos disponíveis, mas falta ainda para outras coisas mais úteis, antes da fachada. “Intelectual é que gosta de pobreza, pobre gosta de luxo”, seria a máxima atribuída a Joãozinho Trinta.
Enfim, o tema é maior que uma nota em blog admite.
E ainda fica faltando refletir sobre o quão profundamente a estética inacabada/pobre das casas faveladas atinge a sensibilidade e autoestima dos moradores do asfalto e dos governos…
Vale a pena ver o artigo citado: “É melhor jogar dinheiro…”