*Editorial do jornal o Globo de 29/05/2011
O Censo 2010 registra uma estimulante tendência demográfica no Rio — a redescoberta do Centro da cidade, e seu entorno, como opção habitacional. Dados apontam um aumento, nos últimos dez anos, de 5,1% da população da Região Administrativa, que havia sofrido uma retração de 20,3% na década de1990. A retomada é ainda mais expressiva em outras áreas da região central, como a Zona Portuária, que registrara uma queda de 9,3%na década anterior. Pelo novo recenseamento, registrou um crescimento populacional de 21,7%. Há explicações sociais, urbanísticas, econômicas, administrativas e de ordem prática para esta curva ascendente.
O Rio tem um grave contencioso habitacional, reflexo de uma política de ocupação da qual resultaram nichos de moradia preferenciais— a Zona Sul e parte da Zona Norte, com boa rede de serviços urbanos mas adensamento populacional fora dos limites do suportável, e o subúrbio e a Zona Oeste, menos adensados, mas com infraestrutura urbana precária. O déficit de casas leva a população a buscar alternativas à demanda de prédios para uso familiar — daí o movimento rumo ao Centro, que também tem apelos como uma ocupação que ainda pode estender-se por áreas próximas, uma rede de serviços razoável e a proximidade do local de trabalho.
Outro fator ajuda a explicar a nova tendência: a revitalização do Centro, já visível em áreas como a Lapa, com muitos lançamentos imobiliários, e a Praça Tiradentes, reformada. Em outras regiões, a oxigenação urbanística é potencialmente real, como a Zona Portuária, com o projeto Porto Maravilha, incluindo intervenções como a demolição de parte do Viaduto da Perimetral. Também ajuda a levar água para o desenvolvimento desse espaço da cidade a decisão de para lá transferir uma parte do projeto dos Jogos Olímpicos de 2016.
Por óbvio, o movimento de reocupação do Centro implica modernizar, no mesmo ritmo, a rede de infraestrutura e serviços urbanos, bem como melhoraras condições de habitabilidade(segurança, mobiliário, incentivos à instalação de empresas, casas comerciais, colégios, hospitais, essenciais para tornar dinâmico o dia a dia), de modo a dotar a região das mesmas ofertas de lazer, educação e consumo de outros bairros. É fundamental também que o crescimento seja acompanhado de ações de ordem urbana, com a presença da Guarda Municipal para evitar abusos (calçadas mal conservadas, entulhadas de ambulantes) e preservar a qualidade de vida dos moradores.
O longo tempo de abandono do Centro, contra partida de uma política urbanística de que decorreu a gordura demográfica na ocupação da Zona Sul e a transferência de vultosos recursos preferencialmente para o desenvolvimento da Barra, deixou a região com grandes carências. Ademais, a área tem grande população flutuante nos dias de semana — pessoas que lá trabalham ou estão em compras —, o que só potencializa as demandas.
Eis, portanto, o poder público diante de um quadro com potencial para revolucionar o perfil demográfico da cidade. O desafio é gerenciar eficazmente essa nova realidade, para torná-la de fato positiva.
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