No ano 2000, a mais de dois anos do término de seu mandato, o presidente FHC recebeu uma pequena comissão liderada pelo então prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, para conversar sobre a questão urbana brasileira.
Fernando Henrique disse considerar uma falha de seu governo não ter tratado convenientemente o tema das cidades, que lhe parecia assunto que seria cobrado na próxima campanha eleitoral. E que o Brasil teria que se dedicar, nos próximos anos, a enfrentar as desigualdades intraurbanas, o saneamento, a habitação, o transporte. Enfim, o presidente conhecia as imensas carências do sistema urbano brasileiro. Não tratara no curso de seu mandato por que? Por certo, outras prioridades prementes tomaram a sua atenção.
Hoje FHC, em artigo publicado hoje, traça uma espécie de ideário para os próximos anos: depois de 25 anos de democracia, é hora de ‘buscar um futuro melhor para todos’. Discorre sobre mercado internacional, controle da inflação, economia em geral; tamanho do Estado; saúde, educação, reforma agrária, salário mínimo, poupança, sistema eleitoral, segurança pública, energia, biodisel, etc, etc.
No entanto, nem uma palavra, nem uminha só, sobre as cidades e os problemas urbanos!
Nas cidades moram mais de 150 milhões de brasileiros. Nas grandes cidades estão as maiores desigualdes sociais do país. Os brasileiros gastam tempo e vida em transporte inadequado, insuficiente, bandido. As condições sanitárias são um descalabro ambiental e social. Falta política habitacional que universalize o crédito. Enfim, tudo isso que FHC já sabia há dez anos. Nada disso foi resolvido de lá para cá.
Essas coisas não se resolvem por mágica. Precisam entrar na pauta política. Se não foi possível no mandato de FHC, tampouco no de seu sucessor, por que, hoje, no ideário que faz para os próximos anos, o tema continua ausente?