Quando era estudante, em plena vigência do Movimento Moderno, andávamos pela rua a identificar o que era obra de arquitetura naquele mar de construções de Porto Alegre. Nossa referência era Lucio Costa em sua famosa definição de arquitetura: “construção concebida com …”. Arquitetura é o que detinha determinado código.
Com a revisão doutrinária que a arquitetura experimentou nesses mesmos anos sessenta, com os estudos de Venturi sobre a arquitetura comum norte-americana, com Rossi, Alexander, Lynch, entre outros, a compreensão sobre a arquitetura e a cidade se ampliou e se tornaram interdependentes.
Já nos anos 80, com Ceça Guimaraens e Flavio Ferreira, ajudei a escrever a “tese” do IAB-RJ levado ao Congresso Brasileiro de Arquitetos que se realizou em Belo Horizonte. Defendíamos que arquitetura era o conjunto construído, que arquitetura brasileira era o conjunto construído no Brasil, que conjunto construído eram as edificações e seu contexto, que arquitetura é cidade, e por aí vai.
A década de 90 trouxe um reforço a essa compreensão com trabalhos urbanísticos assumindo papel cada vez mais presente e envolvendo necessariamente edificação + urbanismo como arquitetura.
Mas também houve uma retomada neomodernista, com a exaltação da unidade edilícia como protagonista do ambiente. Nossas revistas de arquitetura quase nunca apresentam os projetos contextualizados. A rigor, diria que nunca mostram como os edifícios se inserem na cidade e no seu entorno, mesmo quando a crítica diz que o projeto teve o ambiente como referência.
Reconheço realidades a distinguir, escalas que tornam complexa a compreensão da arquitetura como todo o conjunto, mas, convenhamos, está mais do que na hora de retomarmos o diálogo em prol da qualificação do nosso campo de trabalho.
Limitar a arquitetura ao edifício –e ainda ao “bom” edifício, não dá mais.