Entre as obras do prefeito Eduardo Paes, avalio que a derrubada do elevado da Perimetral seja, urbanisticamente, a de maior potencial positivo para a cidade.
Já a partir da proposta de derrubada do elevado abriu-se um conjunto de possibilidades para o aproveitamento da área portuária com novos usos, através do projeto Porto Maravilha. Com o financiamento do FGTS para a implantação de nova infraestrutura, viabilizou-se a oferta dos terrenos para novas edificações. Será um importante polo de serviços que ainda precisa de muito cuidado – e que certamente será enriquecido se mesclado com edifícios residenciais.
Uma segunda consequência importante é a Praça XV estar livre da degradação ambiental a que o elevado a condenara por cinquenta anos. Uma nova relação entre esta mais antiga área da cidade e o Centro está em vias de se estabelecer. Em reforço, o novo corredor à beira-mar que interliga a Praça XV à Praça Mauá certamente será um dos passeios mais lindos da cidade.
A própria Praça Mauá está revitalizada. O Museu de Arte do Rio é uma realidade e o Museu do Amanhã a consolida como ponto de cultura. (Oxalá o edifício de A Noite, o primeiro arranha-céu da América do Sul, possa ser recuperado com brevidade.) A implantação da linha de VLT, percorrendo toda a Avenida Rio Branco até chegar ao aeroporto Santos Dumont, recupera a importância do principal eixo urbanístico da metrópole.
De mar a mar, da Mauá à Cinelândia e ao MAM, são dois quilômetros. É o espaço brasileiro mais denso de cultura, de história, de patrimônio e de vitalidade.
Esse espaço estrutura expressões ímpares da cultura, da economia, da política e da história do país. Vejamos: o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu de Belas Artes, o Clube Militar, o Clube Naval, a Casa França-Brasil, o CCBB, o Museu dos Correios, o Palácio Pedro Ernesto e a Igreja da Candelária, entre outros. Mas, também, o Paço Imperial, o Palácio Tiradentes, o Mosteiro de São Bento, o Convento de Santo Antônio, o Largo de São Francisco, a sede da Petrobras, a sede do BNDES, o Passeio Público, a Lapa, o Monumento aos Pracinhas, o Aterro do Flamengo, o aeroporto Santos Dumont, o Museu Histórico. E, ainda, a multiplicidade cultural do Morro da Conceição, da Sacadura Cabral, do Valongo e adjacências.
A identificação desses lugares dá a dimensão urbanística e simbólica dessa área que é o verdadeiro coração da cidade e da metrópole. E que, por séculos, também o foi do Brasil.
Este é o lugar que mais bem articula o Grande Rio – do Leste (Niterói, São Gonçalo) ao Oeste Metropolitano (Campo Grande, Santa Cruz, Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Itaguaí), incluindo ainda a Baixada Fluminense (Caxias, Meriti, Nilópolis, Nova Iguaçu) e, especialmente, vinculando a Zona Norte e a Zona Sul. Fruto da Baía de Guanabara, o Centro e o próprio Rio são indissociáveis desta fonte insuperável.
Podemos afirmar que o sonho de tantos cariocas, por tanto tempo, de verem o Centro revitalizado, toma impulso com as mudanças urbanísticas permitidas pela derrubada da Perimetral. A implantação dos VLTs e a domesticação dos ônibus são consequência seguinte que se completará com a construção da Linha 2 do metrô, seguida da Linha 3 (Carioca-Niterói-São Gonçalo) e a transformação dos trens da Supervia em metrô.
A região central do Rio, que inclui Benfica, São Cristóvão, Rio Comprido, Cidade Nova, Catumbi, Porto, Centro e Glória, compõe um polígono urbanístico que pede um projeto de alta qualidade, respeitoso das preexistências, mas, igualmente, aberto a novos desenhos. Há muita área ociosa, terrenos degradados, galpões fabris abandonados que precisam ser revertidos em bem aproveitável pelos cidadãos. É para o Centro que o Rio precisa voltar sua atenção na oferta de equipamentos habitacionais para todas as rendas, novas oportunidades de trabalho e elevado padrão ambiental.
Por aí o Rio começou. Aí está também o seu amanhã em sinalização da equidade na metrópole.
Depois, o Parque de Madureira. Infelizmente, não se confirmaram as expectativas sobre a incorporação das favelas à cidade legal. São importantes, também, as obras na Barra da Tijuca – mas, na minha avaliação, muitas delas têm potencial negativo.