Lucas Franco
Na última sexta-feira, aproveitando uma breve temporada no Brasil, o renomado arquiteto francês Philippe Panerai ministrou uma palestra na sede carioca do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Vencedor do Grand Prix d’Urbanisme da França, em 1999, Panerai é professor de arquitetura da Escola de Belas Artes de Paris, professor associado da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e mantém um escritório de projetos urbanísticos em Paris.
O tema da noite foi a Grande Paris, desde as primeiras abordagens na sua dimensão metropolitana até particularidades da recente consulta pública, com inúmeros escritórios de arquitetura e equipes multidisciplinares financiadas pelo governo, para estudar, compreender e projetar soluções para aquela Região Metropolitana.
Apresentando uma série de mapas e fotos das mais sortidas paisagens da região, Panerai nos contou sobre a importância de se articular as diversas lideranças políticas locais, reconhecer e valorizar as preexistências, as vocações e características dos lugares. E talvez o mais importante: pensar na Grande Paris, não significa, absolutamente, pensar em expandir-se a qualquer custo.
Ao final, incitado à reflexão, voltei para casa ainda tentando perceber o que de melhor poderia apreender com a lição parisiense.
Por aqui, nos anos 70, com a definição das regiões metropolitanas brasileiras, e no nosso caso, particularmente potencializado pela fusão dos Estados da Guanabara com o do Rio de Janeiro, criou-se a Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana, a FUNDREM. O conceito de planejamento integrado compreende que em muitos lugares as transformações no espaço urbano não acompanham precisamente as delimitações dos municípios, e ainda, na complexidade do contexto, não seria possível pensarmos em serviços essenciais, como o transporte e saneamento, isoladamente.
Mas apesar de até hoje ainda termos a região metropolitana do Rio de Janeiro reconhecida, como diversas outras no Brasil, com a extinção FUNDREM no final dos anos 80, atualmente, não contamos com um órgão específico para tratar o tema. As lideranças estão desarticuladas e a debate esvaziado.
Na outra ponta, se não pensa em conjunto, a prefeitura do Rio de Janeiro pensa em crescer. E não para de investir na sua expansão. Nota-se, por exemplo, na priorização dos projetos de mobilidade para zona-oeste, área de expansão da cidade, onde ainda existe oferta de grandes terrenos livres a preços menores. As construtoras e empreiteiras, é claro, agradecem e fazem a sua parte.
A lição de Paris, para o caso do Rio, não poderia ser mais dura: além de não estarmos mais pensando de modo metropolitano, seguimos pensando em expandir.